Vivemos em um mundo acelerado. A produtividade, ainda que nem sempre real, virou virtude, a busca por reconhecimento e sucesso se tornou meta comum para a maiorias das pessoas com as quais você cruza todos os dias, enquanto o descanso se tornou quase um pecado e qualquer pausa uma perda de tempo. No entanto, será que essa pressa constante dos dias atuais é natural? Será que nosso corpo e nossa mente foram feitos para esse ritmo desenfreado a que nos sujeitamos?
Existe um princípio muito antigo que nos oferece uma resposta profunda e surpreendentemente atual: a Lei do Ritmo. Segundo esse ensinamento milenar, tudo na natureza e na vida se move em ciclos. Nada escapa. Tudo sobe e tudo desce, expande e contrai, inspira e expira.
Mas o que isso tem a ver com o que chamamos de ansiedade, depressão e a nossa saúde mental?
A Lei do Ritmo é uma das sete leis herméticas e afirma que:
“Tudo tem fluxo e refluxo. Tudo sobe e desce. Tudo se manifesta por oscilações compensadas.”
Assim como as marés do oceano, tudo na natureza (e em nós, afinal somos parte da natureza) segue um ritmo. Existem períodos de crescimento e de recolhimento, de energia e de cansaço, de luz e de sombra. Nada nunca permanece estático. Esse movimento entre os extremos é natural e essencial e com um pouco de observação podemos enxergar o ritmo em tudo.
Podemos dizer que o problema começa quando esquecemos desse ritmo.
Nossa sociedade moderna criou uma ilusão de linearidade. Esperamos e desejamos estar sempre motivados, sempre bem, sempre produzindo, sempre energizados, mas a natureza não funciona assim e como somos natureza, nós também não funcionamos assim.
Quando tentamos viver numa linha reta de constante alta performance ou estado de espírito, quer seja físico ou mental, estamos lutando contra o próprio fluxo da vida. E essa resistência logo gera atrito. O nome moderno para esse atrito pode ser ansiedade, burnout ou depressão. É seu corpo natural lhe dizendo que algo saiu dos trilhos. Como as luzes acendem no painel do carro para informar sobre algum problema.
Imagine o que acontece se você tentar impedir uma onda de recuar. Você só pode tentar e ainda assim com muito esforço, mas logo perceberá que a maré irá lhe arrastar de volta com força ainda maior.
É dessa forma que muitas crises se formam. Ignoramos os sinais do corpo, da mente e da alma pedindo pausa, reflexão, silêncio e insistimos em seguir em frente por anos a fio, empurrando o ciclo natural da vida para debaixo de um tapete, fingindo que estamos sempre bem e discordando de qualquer sinal que tente dizer o contrário em nós mesmos.
A ansiedade é, muitas vezes, o sintoma de alguém tentando forçar o tempo. Queremos controlar o que ainda não aconteceu. Vivemos com medo do que está por vir ou queremos desesperadamente resgatar algo a que acreditamos ter perdido o timing perfeito. E, nesse esforço, perdemos a capacidade de estar presentes, vivendo automaticamente de uma forma onde nada mais parece no lugar certo.
A Lei do Ritmo nos lembra que tudo o que sobe, desce e que tudo o que desce, volta a subir. O sol, a lua, as estações. Não precisamos controlar tudo, porque o movimento da vida já está acontecendo. O tempo não precisa ser domado, só compreendido e respeitado.
Quando aceitamos o ritmo natural de tudo, deixamos de resistir ao que tem que ser. Isso não significa passividade, mas sim sabedoria para agir no momento certo, e descansar quando for hora de se recolher e estar pronto para o próximo momento de agir.
Se a ansiedade pode ser o medo do futuro, a tristeza e os sentimentos depressivos, muitas vezes costumam ser o peso do passado e a incapacidade de encontrar sentido no presente. É como se a alma tivesse sido congelada, no entanto não devemos nos esquecer, o inverno também tem sua função.
Na natureza, o inverno não é o fim, mas sim um componente do ciclo. É justamente no frio e na quietude do inverno que as sementes começam a germinar em silêncio. É o momento em que tudo parece parado, mas a vida está sendo preparada de forma invisível.
No mundo moderno, porém, aprendemos a temer qualquer inverno da alma. Esperamos que nossos sentimentos sejam sempre “positivos”, e que a tristeza seja algo a ser imediatamente evitado ou abafado, nos tornamos totalmente avessos a qualquer sinal de tristeza e contrariedade enquanto vivemos muitas vezes de maneira amarga, reclamando de tudo que não acontece da forma como desejamos ao mesmo tempo que achamos errado nos ressentir, criando assim um ciclo errático de exigência desmedida e culpa.
Novamente, a Lei do Ritmo nos convida a olhar para esses momentos com outro olhar: o de sabedoria cíclica. Assim como a noite é necessária para que o corpo descanse, períodos de recolhimento emocional podem ser férteis e profundamente transformadores se soubermos respeitá-los.
Mas então, como podemos aplicar essa lei na vida prática e aliviar o peso da mente moderna? Aqui vão algumas reflexões e práticas:
Comece a perceber como você se sente ao longo dos seus dias, semanas e até dos meses. Há dias mais produtivos e energizados, e outros mais introspectivos e lentos? Quais são seus ritmos naturais? Seus horários?
Dar luz e conhecer esses movimentos de si mesmo pode evitar que você se cobre por estar mal em momentos que, na verdade, pedem apenas recolhimento. Pode levar um tempo para perceber, mas seus ritmos estão ali escondidos em você.
No lugar de lutar contra o que você sente, experimente observar e refletir. Está ansioso? Está triste? Está feliz? Em vez de julgar ou fugir, perceba e aceite: “isso também faz parte do meu ciclo, do meu ritmo.”
A aceitação não é resignação nem abdicação. É estar presente, consciente de quem somos e onde estamos. A presença é o primeiro passo para o equilíbrio.
Observe as estações, o nascer e o pôr do sol, o ciclo das marés. A natureza não apressa seus processos e ainda assim, tudo acontece no tempo certo da forma que deve ser, às vezes um dia é mais quente e em outras vezes mais frio. Tudo vai e tudo volta, tudo sobe, tudo desce, você sabe que o dia vem depois da noite e vice-versa.
Você faz parte disso. Você também é isso.
Há muito ruído no mundo atual, uma infinidade de estímulos. No entanto é no silêncio que escutamos nossa alma. Encontre momentos sem distrações (você acha que consegue?). Talvez só observar a respiração ou desligar todos seus apps e apenas ficar a sós consigo mesmo. Isso ajuda a restaurar o equilíbrio e a ouvir o que sua mente está tentando dizer.
A grande sabedoria da lei do ritmo é essa: o que vai, volta. A tristeza não dura para sempre. A alegria também não durará. Tudo se move, e há beleza nisso. Quando aprendemos a confiar nesse movimento, o medo acaba por perder força.
Os sintomas de ansiedade e a depressão tão comuns nos dias de hoje, são muitas vezes, sinais de uma vida que perdeu o contato com seus próprios ritmos. Não se trata de negar tratamentos médicos ou psicológicos, pois eles são essenciais, mas de não ignorar que, por trás de muitos desequilíbrios emocionais atuais, existe um afastamento do nosso ciclo natural de ser.
A Lei do Ritmo nos convida a reaprender a viver como o que somos de verdade. A parar de lutar contra a força implacável da maré e a perceber que a vida é feita de ondas que vem e que vão e não de linhas retas contínuas, perceba que há pouquíssimas linhas retas na natureza.
Quando reaprendemos a surfar essas ondas com consciência e compaixão, algo muda e não porque os desafios desaparecem, mas porque voltamos a compreender: isso também vai passar e voltará igual, porém transformado e eu saberei dançar com isso.